sexta-feira, 1 de abril de 2011

Anatomia Das Coisas Encalhadas.
Hoje 01/abril- Vila das Artes -Projeto Intercâmbios 2010/2011
Iniciando o Mês da Dança.
Éramos poucos, fazia calor.
Minhas " inutilidades " expostas juntas no chão..E a pergunta que não calava - O que dançar entre as sobras , entre o que deveria ser lixo, o que há para dançar nisso ????
E enquanto eu falava a imagem de pessoas idosas me vendo vinham na minha cabeça , como num filme de mim mesma.. A dança agora era outra , queria tratar sobre fragilidade, sobre o que não é usado, sobre o tempo, sobre escolher, sobre guardar, e ver o tempo exercendo seu poder nisso tudo.
Já foi bonito - acredite. Frase martelando na minha cabeça . Eu ainda vejo beleza .
Há uma dança que acontece ao redor de mim, tão delicada, tão pequena a vontade de mover,quase quero ficar parada.Não sinto necessidade de muitos movimentos.
E no meio de tudo uma vontade ensurdecedora de desabafar, de dar ao outro aquilo que até então era só meu: minha incapacidade de me desfazer das coisas , das situações , das pessoas, das sensações e por fim -dos objetos. O desejo de salvação do fim de sua vida útil, a vontade de prolongar um tempo mais sua existência - salvar a todos da vida efêmera e fútil de ser apenas embalagem para algo que já foi usado....
E depois de feito o desabafo- Vem um vazio cheio de preenchimento,um silêncio ruidoso das palavras e sensações trazidas à tona.
Lembranças tão delicadas. Que tem um significado pra mim, e para os outros ??
Quando realmente sabemos que aquilo que queremos tratar se comunica com o outro?????
Senti olhares quentes, ternos, senti .
Me pergunto: Nos comunicamos? Terá ficado algo em alguém ?
Minhas palavras e o meu corpo entre elas junto com a exposição das minhas inutilidades , tudo isso junto diz algo?
A produção de significados se relaciona com a experiência que vivemos ali naquele momento????
Tratar de delicadezas, de pessoalidades é um risco sempre muito alto.
Minhas coleções , antes só minhas, agora fazem parte de outros pensamentos.
Tiveram uso e vida mais uma vez. Meu corpo , minha dança a serviço de trazer, de possibilitar alguma parada no correr do tempo . Tem um momento,breve, que há uma suspenção, como se todos tivessemos respirando e ...... parado um pouco a pressa , a correria das horas , das tarefas infindáveis.
Em mim vem a necessidade de colocar questões : Compramos tanto, usamos tudo????? Usamos tanto,precisamos de tudo ???? Precisamos de tanto, nos responsabilizamos por tudo ?????
Questões...Questões...Questões
Silvia Moura.