segunda-feira, 3 de maio de 2010

Politíca Cultural




Quem paga a conta?
Elisa Parente
elisa@opovo.com.br
03 Mai 2010 - 02h54min

Afinal, qual o prestígio que os projetos culturais cearenses têm dentro do Governo do Estado através de sua Secretaria da Cultura (Secult)? Qual a importância de fazer esta produção local circular, mostrando a outros estados sua riqueza e particularidade? Ou melhor, quanto o artista cearense precisa esperar para que a verba de um projeto aprovado seja liberada? Encerrou ontem, 2, em Minas Gerais e no Espírito Santo, a Cena Cearense, etapa da décima edição do Festival do Teatro Brasileiro que levou 16 grupos de teatro e dança cearenses a três cidades mineiras e três cidades capixabas.

A programação, que teve início no dia 12 de abril, levou cerca de 16 mil pessoas a conferirem as produções cearenses por lá. Patrocinado pela Petrobras e com apoio do Governo Federal através do Ministério da Cultura (MinC), o projeto foi também aprovado pelo Fundo Estadual de Cultura (FEC), da Secretaria da Cultura do Ceará, que cobriria 15% de seu orçamento total, ou seja, R$ 156 mil. Até sexta, 30, último dia útil para a formalização do contrato, a verba ainda não havia sido liberada.

O coordenador e idealizador do projeto, Sérgio Bacellar, da Alecrim Produções Artísticas, de Brasília, esteve em Fortaleza na última sexta, 30, e reuniu-se com o secretário de Cultura Auto Filho. Segundo o coordenador, o secretário alegou ter repassado ao governador Cid Gomes o MAPP (Monitoramento de Ações e Projetos Prioritários) do festival e que aguardava seu posicionamento. ``O secretário Auto Filho, que deveria ser o intermediador entre nós e o governador, disse que não poderia fazer nada, que dependia da decisão do governador e que, por isso, estava lavando as mãos``, relata Bacellar sobre a reunião com o secretário na tarde da sexta-feira. Segundo Sérgio, o secretário informou ainda que o MAPP já estava previsto no orçamento do Estado e que havia sido autorizado em todas as qualificações necessárias pelo Conselho de Cultura do FEC, aguardando somente a decisão do governador. ``O secretário, que poderia destacar a importância e a urgência do projeto, pouco estava fazendo``, reclama sobre o atraso no repasse da verba.

Segundo o assessor do governador Cid Gomes, Valdir Fernandes da Silva, através da assessoria de imprensa, se o secretário já havia encaminhado o MAPP, a verba seria liberada nesta semana. ``O secretário Auto Filho já conversou com o governador. Se ele fez tudo isso, o orçamento vai ser liberado. Não existe nenhuma polêmica, nem nenhum problema``, respondeu a assessoria de imprensa. O POVO teve acesso a dois e-mails trocados entre a coordenação do festival e o secretário Auto Filho. Duas semanas antes do início da Cena Cearense, a coordenação recebeu a resposta: ``Já encaminhei ao governador o MAPP da Cena Cearense. Espero apenas a liberação dele para tomar as providências para transferir a grana solicitada por vocês. Como ele está doente, isso talvez demore um pouquinho``, dizia o e-mail enviado por Auto Filho.

Somente na noite da última sexta, 30, Sérgio recebeu uma ligação do assessor do governo Valdir Fernandes da Silva dando um posicionamento sobre o trâmite. ``O assessor Valdir me telefonou informando que havia conseguido falar com o governador, que não nos preocupássemos que daria tudo certo. E que nós receberíamos a resposta definitiva no sábado pela manhã``, adiantou Bacelar. Mesmo sem o retorno previsto, o produtor se mostrava confiante. ``Apesar do desconforto, acredito numa solução positiva. O que se lamenta é que episódios como esses sejam recorrentes na cultura. Infelizmente, algumas coisas ficam mesmo para os 45 do segundo tempo. Com isso, não há planejamento e a gestão da cultura fica condenada a uma política de improviso``, argumentou.

Verba atrasada
Durante os meses de setembro e outubro de 2009, o Festival do Teatro Brasileiro trouxe para os estados do Ceará e Maranhão a Cena Baiana, etapa do festival que fez circular espetáculos de teatro e dança da Bahia para cerca de 20 mil pessoas. Foi neste período que o projeto recebeu a promessa da Secult de que repassaria cerca de 2% do valor total do orçamento para a realização em Fortaleza. ``O projeto da Cena Baiana custou R$ 450 mil. O secretário Auto Filho nos prometeu R$ 20 mil, mas este valor nunca foi pago``, reivindica Sérgio. Segundo o diretor, a Cena Baiana foi vista em Fortaleza por 10.500 pessoas, sendo destes, cerca de 2.500 alunos da rede pública de ensino.

>> A REPORTAGEM tentou entrar em contato com o Secretário de Cultura Auto Filho, mas foi informada de que o mesmo estaria numa audiência. Até o fechamento desta edição, não obtivemos reposta.


NÚMEROS

2 estados
6 cidades
21 dias de programação
61 apresentações





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